Três perguntas para Paula Juchem - Janaina Torres

São Paulo Brasil

Três perguntas para Paula Juchem

14 de janeiro de 2021 | 15:49
A artista Paula Juchem, entre as peças da exposição Da Natureza das Coisas, na Janaina Torres Galeria

Uma desenhista que incorporou a cerâmica no seu trabalho para, a partir daí, moldar uma visão de mundo – barroco, assimétrico, excessivo, encantado e encantador –, Paula Juchem criou seu repertório a partir do contato com a água e a natureza, numa infância simples no Rio Grande do Sul. Nesta entrevista, ela fala sobre os 15 anos na Itália, sua paixão pela argila e a experiência de transformar sensações em desenho e forma, como uma espécie de refúgio mental.

Seu trabalho exibe uma relação íntima entre o desenho e a cerâmica. Onde termina um e começa o outro?
PJ: Para mim, é tudo uma só coisa, normalmente desenho e em seguida começo a modelar. O desenho volta para a cerâmica em forma de relevos (nem sempre), e volta mais um vez na esmaltação. Adoro abusar dos esmaltes, minhas peças vão 3, 4, 5 vezes para o forno, são várias camadas de esmaltes de diferentes qualidades. O desenho é acessível; eu resolvo algumas ideias no pré-sono, às vezes nadando, caminhando ou fazendo yoga. Por isso, costumo ter um caderninho sempre por perto. Já a cerâmica precisa de uma super estrutura para acontecer.


Me formei em Desenho Industrial /Programação Visual, trabalhei na Editora Abril como diagramadora de revistas e depois disso fui embora para a Itália, onde me dediquei a ilustrações feitas a partir de colagens, giz pastel e guache. Foi como ilustradora que recebi um convite para desenvolver em tridimensional um desenho numa comunidade de recuperação de dependentes químicos em Ravenna (cidade na região da Emilia Romagna); tratava-se de um workshop onde passamos uma semana dentro do ateliê de cerâmica dessa comunidade, que é famosa por apostar em trabalhos manuais e meditação como métodos centrais no tratamento de dependências. Essa experiência foi muito importante para mim. Ravenna é uma cidade referência para a cerâmica italiana e a partir dali nunca mais parei de trabalhar com a argila. Ultimamente tenho usado bastante aquarela e ecoline; as transparências sugeridas por esses materiais são pontos de partida para novos projetos.

Paula Juchem, Trapani, 2020, Escultura em cerâmica, 67 x Ø25 cm

De onde vem suas formas? O que procura representar nas suas esculturas?
PJ: Meu trabalho é de troca com a argila; eu amo argila e é o trabalho quem avisa a hora de parar. Enquanto isso não acontece, a minha diversão é sempre o exagero, a sobreposição, o arranhado, o borrado, o errado, o torto, o assimétrico , o descascado, o falhado, o quebrado, o pesado demais. Acho que é aí que mora a graça da minha cerâmica. Dos 14 aos 17 anos passei muito tempo debaixo d’água, mergulhava de dia, de noite, dentro e fora de navios naufragados; cheguei a pensar em fazer vestibular para Oceanologia, eu só pensava no próximo mergulho. E tive uma infância muito simples de cidade do interior do Rio Grande do Sul, com cachorros, galinhas, horta, vacas, pé de laranja e bergamota. Na natureza tudo pode ser muito grande, muito pequeno e infinitamente múltiplo, os fungos, os parasitas, os dinossauros, os monstros das fábulas… gosto de transformar essas sensações em desenho e forma, é uma espécie de refúgio mental.

Que escolas ou artistas você admira? De que maneira influenciam o seu trabalho?
PJ: Não tenho dúvida que o meu trabalho é muito barroco, mas na verdade eu gosto de tudo, me entusiasmo com a bacia de plástico da vendinha, até o Guernica, de um Picasso. Tem uma frase do Agnaldo Farias que eu adoro: “não tem melhor companhia que a erudição”.  Tenho pensando muito sobre isso, quero envelhecer com mais cultura, investir no meu repertório literário, ler os clássicos, correr atrás disso que é determinante para o crescimento artístico. Não me inspiro em ninguém, o trabalho que faço hoje é a inspiração para o trabalho da semana que vem e assim por diante. Estou muito à vontade na minha produção, mas é claro que gosto de muita gente… a cerâmica siciliana, Gio Ponti, Ettore Sottsass, Bruno Munari, Morandi, Castiglioni, Arcimboldo e tantos e tantos outros são parte importantíssima do meu olhar para a arte e para o design. Mas adoro também Cocteau, Picasso, Lina Bo Bardi, Niemeyer, Arthur Bispo do Rosário, Anna Maria Maiolino, Rosana Paulino, Leda Catunda… a lista seria enorme.

Paula Juchem, Polvo, 2020, Escultura em cerâmica, 12 x Ø23 cm
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