Pintar o que nunca foi visto: David Magila - Janaina Torres

São Paulo Brasil

Pintar “o que nunca foi visto”: entrevista com David Magila

30 de maio de 2018 | 17:35

O artista David Magila, em seu ateliê, em São Paulo

David Magila tem formação em desenho e um forte apreço à tridimensionalidade e ao espaço – mas é sua pintura que inequivocamente o situa como um expoente da nova geração. Complementaridade (entre a linha, a cor e ao ambiente) talvez seja a palavra que melhor defina o trabalho desse artista, nascido em São Caetano do Sul, que reside em São Paulo, e que leva para suas telas um pouco das paisagens urbanas que encontra – e fotografa – ao seu redor. Nesta conversa, Magila expõe sua pesquisa e método, e os caminhos que percorre em busca de força e originalidade para seu fazer artístico.

Frequentes Conclusões Falsas 35, Acrílica, carvão, spray e lápis sobre tela, 200 x 150 cm, 2018

Pergunta: Seu leque artístico inclui pintura, desenho, vídeo, escultura, intervenção, site specific… o que te orienta para definir o que fazer?

David Magila: Estudava desenho antes de fazer graduação em artes. No mesmo período comecei a me interessar por outros meios e mídias para o trabalho plástico, como a escultura. Hoje, acredito que o artista visual tenha ferramentas suficientes para materializar qualquer ideia e é desta forma que penso a arte. Me valendo dos veículos que tenho à disposição, consigo pensar e executar planos e projetos, seja no desenho, na pintura, escultura ou em outra mídia que acredito ser ideal para cada trabalho.

Ricocheteios 5, Acrílica, spray e lápis sobre tela, 200 x 120 cm, 2018

Sua temática, por vezes, diz respeito a uma cultura suburbana, de bairros e periferias nitidamente brasileiros. Mas que, no entanto, é submetida a um tratamento pictórico – escala e colorido – incomuns. O que pensa na hora de escolher os temas de seu trabalho?

Gosto da arquitetura como matéria. Mas o que mais me interessa é o fato das necessidades das pessoas que transformam e moldam o entorno delas. Na minha pesquisa, gosto de acrescentar o olhar “estrangeiro” à paisagem, o estranhamento. Quando vou para o ateliê, tento resgatar esse impulso, como se pintasse algo que nunca fora visto e acho que é daí que surgem idéias tanto da estrutura do trabalho como das cores que uso.

A série “Frequentes conclusões falsas” parece ser emblemática de uma atitude estética em que cabe à arte não apenas o significado da experiência, mas a própria experiência visual, em sua complexidade desconcertante. É como se enxergássemos desde sempre o cenário que você assim nos apresenta. Há esse sentido no que você faz?

Os trabalhos surgem de fotos que faço quando estou andando. Por vezes parecem ser muito brasileiros estes locais, mas às vezes não são e ultimamente tenho gostado desse aspecto. Quando já estou no processo da pintura, existe esse pensamento de exagero pictórico em certas partes, mas também existe uma certa organização, um pensamento estético desde o momento em que saio para fotografar estas “fontes” até a finalização do trabalho.

Frequentes Conclusões Falsas 21, Acrílica, carvão, spray e lápis sobre tela, 250 x 140 cm, 2016

É notável seu apego ao pictórico e a singularidade da sua cor. Você se considera um colorista? Como chegar a uma paleta assim?

Acredito que faço uma pintura com um forte apelo ao desenho e assim que começo qualquer trabalho, com o desenho como o primeiro registro nas telas. As cores dos trabalhos tem papel fundamental no pensamento e por vezes saltam aos meus olhos de forma até desorganizada a princípio, e aos poucos vou ordenando as massas coloridas até que tenham sentido de estarem ali; porém, sempre estou testando caminhos e nem sempre são assertivos. Sobre este aspecto, acho enriquecedora esta experiência de analisar as possibilidades que o mesmo trabalho pode oferecer ao longo do processo.

Isca 4, Silicone, Dimensões variadas, 2018.

Você parece gostar muito de pintar e desenhar. É isso mesmo? Arte e prazer são uma boa combinação?

Sempre desenhei. As cores vão chegando aos poucos nos trabalhos, com uma velocidade menor durante o processo, com mais cuidado. Vejo que ainda tenho muito a fazer e estudar nos campos da pintura, assim como na escultura e outros meios. O prazer está relacionado ao dia a dia no atelier, produzindo e mostrando ao público. Isto é uma sensação boa para mim.

Casquinha I, 2014, 80 x 60 cm, Acrílica, spray, carvão e lápis sobre tela

Links externos

Site oficial David Magila
Instagram (@davidmagila)

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