Pedro Moraleida Bernardes na Bienal de Arte Contemporânea de Berlim

São Paulo Brasil

Pedro Moraleida Bernardes na Bienal de Arte Contemporânea de Berlim

6 de setembro de 2020 | 14:34

Pedro Moraleida, Na Dúvida Consulte; São os Calvários (da série Deleuze, Corpo Sem Órgãos), 1988, acrílica, gouache e colagem sobre papel

Ocupando o salão principal do KW Institute for Contemporary Art, em Berlim, o trabalho de Pedro Moraleida Bernardes (1977-1999) consolida-se como uma das forças da arte contemporânea brasileira e global surgido no final do século passado. Transcrevemos aqui uma análise da obra do artista, feita pela escritora e teórica da cultura Ana Teixeira Pinto e publicada no site da Bienal.

A principal série de obras de Pedro Moraleida Bernardes, Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina (Make Your Own Sistine Chapel, 1997/98) inclui um trabalho em papel intitulado após o filme Liebe ist kälter als der Tod (O Amor é Mais Frio que a Morte, 1969) de Rainer Werner Fassbinder.

O enredo do filme gira em torno de Frank, um bandido que se recusa a aceitar uma oferta que não pode recusar, e acaba se tornando um alvo para um sindicato do crime. Esta referência poderia talvez ser interpretada como reflexo do sentimento que o artista tem de si mesmo como um forasteiro em desacordo com o mundo da arte e o trabalho de seus pares.

Os colegas estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais nos anos 90 lembram a dedicação dissonante de Moraleida Bernardes à figuração escatológica e à plasticidade visceral numa época em que a academia foi invadida por gestos conceituais rarefeitos.

Durante sua breve vida, encurtada por seu suicídio em 1999, Moraleida Bernardes produziu um prolífico corpo de trabalho, compreendendo pintura, escultura, textos e partituras musicais. Fortemente influenciado por Arthur Bispo do Rosário e Antonin Artaud, o cânone de Moraleida Bernardes tende a girar em torno de figuras isoladas sitiadas por criaturas ameaçadoras, lagartas ou insetívoras, em cenas bíblicas.

Mimetizando a iconografia religiosa, o artista retrabalhou a mistura do Neo-Expressionismo com o sagrado e o degradado, e sua gramática de angústia, bravura e desinibição. Intimate com a obra de Artaud, que escreveu: “Lá onde cheira a merda, cheira a ser”, Moraleida Bernardes entendeu o escatológico como o “eschaton”, o fim último de todas as histórias. Os atos sexuais épicos e abjetos abundam; não parecem agradáveis, mas violentos e mutilantes.

Friedrich Nietzsche, outra referência importante para Moraleida Bernardes, entendeu o niilismo como, fundamentalmente, um problema de valorização: a desvalorização dos valores mais elevados, Deus, lei moral, civilização, progresso. A questão da Moraleida Bernardes se arrasta para um desenho: “Quem e o quê devemos louvar” poderia talvez ser entendida como uma questão estruturante, guiando um danse macabre entre a busca, a vida e os valores denegridos.

Por Ana Teixeira Pinto

Texto original aqui (em inglês)

Enfim, Ganhei a Dádiva Divina (da série Deleuze, Corpo Sem Órgãos), 1988, acrílica, lápis e cor e colagem sobre papel

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