No ateliê: Sandra Mazzini - Janaina Torres

São Paulo Brasil

No ateliê: Sandra Mazzini

30 de janeiro de 2019 | 16:07

Pintura em execução de Sandra Mazzini, no novo ateliê da artista, em São Paulo

O espaço de trabalho é importante para um artista? Tem relação direta com o resultado? No caso de Sandra Mazzini, que em meados do ano passado trocou um espaço coletivo na Unesp, na Barra Funda, por um ateliê individual na Pompéia, também em São Paulo, a resposta é sim. Se, na visão dela, tantos artistas trabalham na rua ou vivenciam imersões na relação entre as pessoas, coletando objetos ou escrevendo, para Sandra o ato de dirigir-se à solidão (relativa) de um ateliê é fundamental. “Na minha prática, identifico a necessidade de um espaço onde se centraliza a prática, reflexão e depuração da pintura”, diz a artista, cercada de telas e plantas, nessa entrevista em que explora a relação do local de produção da sua arte com o resultado pretendido – pinturas que oscilam entre o deslumbre visual e a milimétrica composição racional.

O que mudou na sua arte com a mudança de um espaço coletivo para um ateliê individual?

A mudança de ateliê acompanhou uma mudança de relação com a pintura. Ela veio no momento em que sinto a necessidade de aprofundar a pesquisa que iniciei alguns anos atrás. Nesse novo espaço, trabalho sozinha, o que é inédito pra mim e permite imersões no processo que até então não tinha experimentado. Sou uma pessoa notívaga, gosto do silêncio e acho que a madrugada ajuda a me concentrar. No ateliê novo sinto que não só criei mais intimidade com meu trabalho, quanto tenho liberdade para entender algumas características que são particulares do meu processo criativo.

Sandra Mazzini diante de trabalho em execução, no ateliê

Saiba mais sobre o trabalho de Sandra Mazzini aqui. 

Qual sua rotina no novo ateliê?

Todos os dias eu chego durante a tarde, passo um café e limpo a paleta do dia anterior. Não demoro muito pra começar a pintar. Depois de 2 ou 3 horas o traço começa a ficar mais fluido e em 5 ou 6 horas são as ideias para o uso das cores que ganham mais fluidez. A partir desse momento sinto que tudo passa a ter mais qualidade e costumo só parar quando já está amanhecendo. Gosto dessa rotina. Meu trabalho tem a ver com a fragmentação e mapeamento de gestos e humores dentro de uma mesma pintura, ter um espaço para entender e explorar isso tem sido fundamental. Tudo então passa a ter um sentido. Tenho muitas plantas no meu ateliê porque gosto de observar elas mudando gradativamente – existe no meu trabalho esse mesmo tempo e movimento. No meio das plantas, há muitas réguas, esquadros, transferidores, trenas – são os objetos que circundam o trabalho e que dizem muito sobre ele.

Sente falta da troca do espaço coletivo na Unesp? Havia que tipo de troca junto a tantos jovens artistas?

Participei por 3 anos de uma residência no ateliê 509 do instituto de arte da Unesp, onde partilhava o espaço com mais 10 artistas. Havia troca não só entre os artistas residentes, mas também com os estudantes do instituto, tanto de graduação quanto de mestrado e doutorado. Aconteciam visitas ao espaço durante aulas sobre processo criativo ou pintura tornando o espaço dinâmico com uma circulação de pessoas constante. Era interessante a sensação de, em uma instituição de ensino, ter pessoas acompanhando todo o processo da pintura, desde a preparo da base até as últimas camadas – nesse contexto era comum ter estudantes dos primeiros anos de pintura perguntando sobre materiais, solventes e técnicas até mestrandos na área de mídia questionando sobre como é pintar hoje, se as novas tecnologias afetam ou não o processo criativo. Para um período de formação foi um espaço essencial para provocar questionamentos e trocar experiências.

As ferramentas de trabalho da artista

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