Janaina Torres Galeria apresenta individual inédita de Pedro Moraleida

São Paulo Brasil

Janaina Torres Galeria apresenta individual inédita de Pedro Moraleida

24 de março de 2022 | 13:22
Pedro Moraleida_Sem Título - Mulher com Cara de Máscara Africana (Série Casais sorridentes de mãos atadas)_Acrílica sobre papel_58 x 44 cm (2) Pedro Moraleida_Sem Título – Mulher com Cara de Máscara Africana (Série Casais sorridentes de mãos atadas)_Acrílica sobre papel_58 x 44 cm (2)

O mais intrigante artista de sua geração. Uma história marcada pela produção compulsiva e cheia de significados. Um trágico fim disfarçado na inalcançável liberdade. A breve e contundente história de Pedro Moraleida (1977-1999) deixou como legado um considerável conjunto de obras que chamam atenção por sua singularidade, coerência, vigor e coragem de enfrentar a apatia dominante à sua volta. Nas artes, inclusive. Parte desse valioso acervo poderá ser visto na mostra Fluxos Plenos de Desejo, com curadoria de Ricardo Resende, de 2 de abril a 26 de maio, na Janaina Torres Galeria, em São Paulo.

Entregue a mergulhos em universos muito próprios, só dele, o jovem Moraleida ousou ignorar tendências, com a coragem de quem corta a própria carne para expor medos, desejos e sonhos, determinado a se envolver com tudo aquilo que existe e perturba, dentro e fora de si. Bem como se espera de um enfant terrible, um artista romântico pleno – e incontrolável.

Trata-se de um acervo que tem conquistado, à medida em que é exposto, repercussão e admiração imediata, no Brasil e no exterior. “É um trabalho extraordinário, feito por um artista extraordinário e que precisa ser mais mostrado, conhecido e estudado”, diz Hans Ulrich Obrist, curador da Serpentine Gallery, de Londres, e da mostra Imagine Brazil (2013), que levou os trabalhos de Moraleida pela primeira vez ao exterior, e é considerado um dos curadores de arte contemporânea mais influentes do mundo.

E é assim que o mundo herda um acervo reconhecido por suas dimensões, diversidade e poder de provocar as mais variadas reações. Muitas vezes irônica e irreverente; sempre corajosa e intensa, a obra de Moraleida surpreende, provoca e incomoda, mas não só.

“Nesta seleção, além de obras conhecidas, polêmicas, incluímos também alguns trabalhos pouco vistos, revelando outras características da sua produção, como uma série de paisagens que, mesmo sendo paisagens, mantêm seu traço visceral”, anuncia o curador Ricardo Resende.

Fluxos Plenos de Desejo traz 25 pinturas, 61 desenhos e 16 desenhos/pinturas de um criador arredio às regras, livre e  experimental, combinando formatos, técnicas e materiais. Um recorte que representa a potência de suas obras visuais (para além dos textos e arquivos sonoros), em sua maior parte sobre papel. A exposição é fruto de um projeto desenvolvido ao longo de oito anos de relacionamento e trabalho junto a família do artista.

Trata-se de uma seleção expressiva, dentro de um universo de 1.900 peças (1.450 desenhos e 150 pinturas) deixados pelo jovem artista. Moraleida abraçou a tradição clássica da pintura e do desenho em um momento – os anos 90 – em que essas linguagens eram desacreditadas e  preteridas frente a uma explosão de performances, vídeos e instalações, sob domínio da arte conceitual.

“É como se estivéssemos descobrindo o artista agora há pouco, em 2017, em Belo Horizonte, quando a exposição de sua obra chamou muita atenção por conta do momento político conservador que estamos vivendo. Um assombro que continuou em 2019, em São Paulo, na ‘Canção do Sangue Fervente’, retrospectiva no Instituto Tomie Ohtake, onde caímos de joelhos diante da magnitude de trabalhos que compõem sua obra maior, Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina”, reflete Resende, no texto curatorial.

Leia também: Fluxos Plenos de Desejo, por Ricardo Resende

Entre os destaques desta exposição na Janaina Torres Galeria, estão obras em que Pedro faz referência a outros artistas, evidenciando sua admiração a nomes como Andy Warhol, Leonilson e Picasso, que, assim como Caravaggio, Miró e, sobretudo, Arthur Bispo do Rosário, tiveram evidente influência no seu processo criativo.

Também chamam a atenção as séries Primitiva, Corpos sem Órgãos, Paisagens, Mulheres, Histórica – Presidentes Americanos e Líderes Comunistas Vendem Pornografia, Casais Sorridentes de Mãos Atadas, O Deslocamento dos Artistas, Deuses, Desenhos com Letras, Amebóide e Angústia, exibidas pela primeira vez em uma galeria na cidade.

Destaque, também, para a serpente em acrílica sobre papel de formato inusitado (Cadáver adiado que procria – A roda da serpente, de 1,5m x 1,5m), coração pulsante desta mostra na Barra Funda.

Assim como para Leonilson e Bispo do Rosário, a palavra para Moraleida tem papel importante no seu trabalho plástico, uma consequência da sua relação próxima com a literatura, poesia, filosofia, psicanálise e cinema (de Pasquim, MAD e Rê Bordosa a Fassbinder e Artaud), o que acabou por aproximá-lo de questões urbanas, políticas e sociais do seu tempo.

Palavras o influenciaram até mesmo na titulagem das obras, como em “Cão morto e menino chorando”, “Tiro atinge estudante em colégio”, “Fúria diante de um morto”, “Homem faz declarações proféticas”, “Ó senhor, por que tenho tanto frio”, “Rapaz entristecido e o cão a consolá-lo”.

Agora, na Janaina Torres Galeria, surge nova chance de decifrar uma obra de intensidade sem limites, fruto de um artista que nos presenteou com uma poética inquietante e representações que ousam revelar o que há de sedutor e assombroso em todos e cada um. 

Caravágio – Miró (Série O Deslocamento dos Artistas), grafite sobre papel, 29,5 x 21 cm 

Sobre Pedro Moraleida (1977-1999, Belo Horizonte)

Estudou na Escola de Belas Artes da UFMG. Desde a adolescência, produzia desenhos ligados à linguagem das histórias em quadrinhos, debruçando-se na literatura e filosofia. Possui uma obra provocadora e ácida, onde não se limitou apenas à produção visual, mas, também, ao estudo da linguagem e da comunicação, onde uma vasta produção de pinturas e desenhos, carregados de cor e expressividade, mesclam-se a textos e poemas autorais. Seu trabalho pôde ser visto em sua cidade natal, Belo Horizonte e também em grandes mostras póstumas, coletivas e individuais em espaços como Instituto Tomie Ohtake, Astrup Fearnley Museet (Noruega), Musée d’Art Contemporain de Lyon e 11ª Bienal de Berlim.

Exposições individuais

2018 – Canção do Sangue Fervente, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo
2017 – Faça você mesmo sua Capela Sistina, Fundação Clóvis Salgado, Belo Horizonte
2015 – Pedro Moraleida: Desenhos e Pinturas, Galeria Mama Cadela, Belo Horizonte
2014 – Alvorada do Homem, Galeria La Maudite, Paris
2011 – Pedro Moraleida – Pinturas, Instituto Helena Greco de Direitos Humanos, Belo Horizonte
2005 – Conjunção de Fatores, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte
2002 – A confissão de um artista plástico enquanto jovem diante do século XXI, Grande Galeria do Palácio das Artes, Belo Horizonte | Coisas para fazer hoje!, Casarão do Ipsemg, Belo Horizonte
2001 – Pedro Moraleida, Arte Fisco Semana do Servidor Público, Teatro Izabela Hendrix, Belo Horizonte

Exposições coletivas

2020 – 11ª Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Berlim, Alemanha
2015 – Imagine Brazil, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo | Imagine Brazil, DHC/ART Foundation for Contemporary Art, Montréal, Canadá
2014 – Imagine Brazil, Musée d’Art Contemporain de Lyon, França
2013 – Imagine Brazil, Astrup Fearnley Museet, Oslo, Noruega
2011 – A borda do Mundo, Mostra Cultural Freud Cidadão, Casa Freud, Belo Horizonte
2008 – Exposição de verão – 5ª Edição, Galeria Silvia Cintra e Galeria Box 4, Rio de Janeiro
2005 – Desenhos, Galeria Chez Moi, Ipanema – MG
2004 – Pintura: uma questão brasileira, Galeria de Arte Gesto Gráfico, Belo Horizonte
2000 – XIII Integrarte – Salão Anual dos alunos da Escola de Belas Artes, Sala especial dedicada a Pedro Moraleida, Centro Cultural da UFMG, Belo Horizonte
1999 – Grande Círculo de Pequenas Coisas, Mostra itinerante, Belo Horizonte | Esse estranho objeto: o livro. Galeria do Centro Cultural da UFMG, Belo Horizonte | Condoam-se FDP! Com Frederico Ernesto. Galpão Guaicurus do Centro Cultural da UFMG, Belo Horizonte
1997 – Daqui a um Século, Centro Cultural da UFMG, Belo Horizonte | X Integrarte, Salão Anual dos alunos da Escola de Belas Artes. Centro Cultural da UFMG, Belo Horizonte

Fluxos Plenos de Desejo
Pedro Moraleida

Curadoria: Ricardo Resende
Local: Janaina Torres Galeria
Abertura: sábado, 2 de abril, em horário especial das 11h às 17h, com visita guiada pelo curador às 16h
Período expositivo: até 26 de maio de 2022
Horário: de terça a sexta, das 10h às 18h. Sábados, das 10h às 17h
Endereço: Rua Vitorino Carmilo, 427, Barra Funda, São Paulo
Informações para o público: (11) 4240-2298 | (11) 11 93312-6253 (WhatsApp)

Leia Também
EXPOSIÇÕES & VIEWING ROOMS

ENTES

As Maneiras Plurais de Existir

Êxtase

Giulia Bianchi, Mirela Cabral e Paula Scavazzini

Entroncamento

Luciana Magno, Paula Juchem e Pedro David

Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento.

Aceitar