Devorado pelo século XX: catálogo mostra a força e a iconoclastia de Pedro Moraleida - Janaina Torres

São Paulo Brasil

Devorado pelo século XX: catálogo mostra a força e a iconoclastia de Pedro Moraleida

27 de dezembro de 2017 | 10:45

Vista da entrada da exposição Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina, de Pedro Moraleida, no Palácio das Artes (BH)

Tendo apenas recortes exibidos anteriormente, com amplo reconhecimento, em capitais como Paris, Montreal, Dubai e São Paulo, a extensa obra de Pedro Moraleida ganhou, em 2017, uma visão mais ampla de seu conjunto e sua força, na exposição Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, de setembro a novembro de 2017. Na sua cidade natal, o mineiro Moraleida, falecido precocemente em 1999, aos 22 anos, teve exibidas 131 pinturas, 48 desenhos, quatro esculturas, além de textos e vinhetas musicais de sua autoria, com curadoria de Augusto Nunes-Filhoatraindo um público recorde de vinte mil pessoas.

Pedro Moraleida, Sem título, acrílica sobre tecido, 1,55×1,02m

O caráter transgressor evidente de seu trabalho encontrou, por ocasião da mostra, um Brasil em ebulição, em que forças reacionárias miraram o campo cultural para impor uma luta política baseada em censura e difamação à produção artística. A obra de Moraleida não ficaria incólume aos ataques, despertando, no entanto, amplas contra-reações das camadas sociais comprometidas com a força viva da cultura, a diversidade e a liberdade.

Não é exagero dizer que a obra de Moraleida brilhou com destaque em meio à ameaça das trevas de 2017. Como reforça o bem-vindo catálogo da exposição, recém-lançado, trata-se de mérito incontestável da força estética do trabalho do artista, que está na base de sua força cultural e política.

Selecionamos, a seguir, imagens do catálogo de Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina, além de trechos dos textos de apresentação e da curadoria.

Pedro Moraleida, Série Madonas, tinta automotiva s/ placa de alumínio, 4,80 X 1,60m

Pedro Moraleida foi devorado pelo século XX. Na voragem o seu fecho, o século passado terá entendido que o jovem artista trazia em si todo o século XXI e já o tinha vivido plenamente. Reteve-o na soleira da nova era para guarda-lo só para si. Antecipador, Moraleida experimentou quase tudo que se projetou e se multiplicou nestas décadas iniciais. E o fez com a exuberância e a velocidade de quem é íntimo da vertigem.
Angelo Oswaldo de Araújo Santos, Secretário de Estado de Cultura de Minas Gerais

Pedro Moraleida, Série Faça você mesmo sua capela sistina, Sub-série Germânica, Liebe ist kälter als der tod!!! (O amor é mais frio que a morte!!!), acrílica e colagem sobre tecido – 5,50X2,43m

No curto intervalo de duração de sua atividade artística, Pedro Moraleida Bernardes dedicou-se ao exercício diuturno, intenso e pleno de uma corrosiva, irreverente e determinada iconoclastia. O desmesurado dessa produção atinge tal dimensão que é impossível não vislumbrar nela uma quase imperativa compulsão a exigir sempre, e mais, o melhor dele. Moraleida elegeu alguns temas como objeto e alvo principal. A complexidade dos questionamentos sobre religião. O intricado das relações entre poder, política e ideologia. As conexões dos fundamentos do saber, da ciência e da filosofia. As múltiplas formas de expressão da sexualidade, mirando condutas, hábitos e costumes historicamente consolidados na sociedade. Augusto Nunes-Filho, Curador

Reencontrar a obra de Pedro Moraleida, no seu quadragésimo ano, é celebrar a vitalidade de um legado que continua a iluminar a escalada do tempo. Angelo Oswaldo de Araújo Santos

Pedro Moraleida, Sem título (obra inacabada), acrílica sobre tecido – 3,22×1,64m

O gesto de Moraleida prescinde de retoques: é preciso, direto, assertivo e assertivo. Sem rodeios, seca, objetiva, suja. Características atribuídas à arte bruta também podem ser vinculadas ao trabalho de Moraleida. Ele provoca, ainda, um deslocamento no próprio conceito de arte bruta ao incidir seu foco não mais sobre o artista, mas sobre a própria obra de arte. Esse reenquadramento confere mais consistência e coerência à obra do jovem artista; ao invés do segregado ou excluído social confinado em instituições totalitárias, ou do grafiteiro ocupante do espaço urbano, o jovem desenvolve um trabalho (no seio da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais) que dialoga em fina sintonia com Artur Bispo do Rosário ou Jean-Michel Basquiat. Augusto Nunes-Filho

Mais sobre Pedro Moraleida

Site do artista (em flash)

Enciclopédia Itaú Cultural

Página do artista (Janaina Torres Galeria)

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